Artigo de opinião
Nos tempos atuais de pandemia atual COVID-19, temos presenciado um crescimento exponencial de soluções digitais disponíveis em saúde, desafiando a medicina convencional. A telesaúde, que se encontrava até há pouco tempo distante da prática médica, está finalmente a convergir com a informação de saúde. Algum caminho já se fez, contudo a iliteracia tecnológica da população mais idosa e alguma resistência na aceitação pelos profissionais de saúde são barreiras à implementação da telesaúde, e mais particularmente da tele-reabilitação. Considero que cabe aos profissionais de saúde nomeadamente médicos ultrapassar estas barreiras, usar o nosso saber em prol da população portuguesa.
As sociedades atuais debatem-se com um problema – o aumento da esperança média de vida e a crescente prevalência de doenças crónicas na população tem originado uma necessidade constante de adaptação dos cuidados de reabilitação de modo a fornecer serviços médicos universais e equitativos. Neste sentido, a discussão de reabilitação no domicílio é atual. De fato, os serviços de reabilitação hospitalares, não têm capacidade logística e humana, para seguir todos os doentes que sofrem um evento traumático ou cirúrgico e que seja previsível realizar tratamentos de fisioterapia. Felizmente, em Portugal, existe uma vasta rede de clinicas com cuidados de reabilitação de ambulatório. Não obstante, existem casos pontuais de barreiras de acesso do doente à reabilitação.
Tradicionalmente, uma barreira de acesso à reabilitação é geográfica, pelo fato de haver uma fraca resposta de cuidados de reabilitação em populações residentes no interior ou localidades remotas. Mas a barreira não é só geográfica, dando por exemplo a situação atual de pandemia que implicou políticas de distanciamento social. Além disso, a pressão económica sobre os prestadores de serviços leva a um encurtamento da duração de internamento dos pacientes deslocando-se cada vez mais o tratamento complementar para um plano de ambulatório. E não sendo frequente, é realidade que alguns doentes referem atrasos de início de cuidados de reabilitação em ambulatório, resultado de viverem em zonas mais rurais ou da rede do Sistema Nacional de Saúde ser lenta e burocrática. Mesmo nos Sistemas de Saúde Privado, algumas vezes verifica-se uma resposta deficiente nos cuidados de reabilitação decorrente de atraso de análise das apólices da seguradora. É frequente, os doentes serem aconselhados, após uma lesão aguda músculo-esquelética ou após cirurgia, a efetuar determinados exercícios em casa sem qualquer acompanhamento clínico. Todas estas razões fazem sentido para que as novas tecnologias de tele-reabilitação sejam fundamentais no futuro.
Agora, mais que nunca, decorrente da situação atual de pandemia, é necessário repensar os serviços. A telesaúde nas vertentes de tele-reabilitação e tele-monitorização deverá ser uma abordagem nova na reabilitação, com vista a proporcionar cuidados adaptados às necessidades dos doentes. A tele-reabilitação não deve e não pretende substituir os cuidados de reabilitação tradicionais de reabilitação de fisioterapia, terapia ocupacional ou terapia da fala, mas sim elevar os cuidados de reabilitação. O objetivo principal é fornecer o acesso universal e equitativo de serviços de reabilitação.
Ainda estamos longe de uma solução sistémica real a um problema crescente de acesso à reabilitação numa população cada vez mais envelhecida. A tele-reabilitação pode ser uma solução parcial, contudo é necessário repensar a forma de como a efetuar.
A vertente de vídeo-conferência (com plataformas especificas ou gerais como skype ou zoom) é uma resposta parcial a esse problema. Contudo debate-se com o problema de escalabilidade. Se por um lado diminui os recursos logísticos de infra-estruturas (o doente não necessita de recorrer às instalações físicas da clínica ou hospital), por outro lado aumenta a necessidade de recursos humanos por depender da total presença de um fisioterapeuta durante toda a sessão de vídeo-conferência. Torna-se assim evidente que é necessário encontrar uma tecnologia com relação custo-benefício mais adequado, em que o doente efetua os exercícios independentemente e que tenha simultaneamente um acompanhamento remoto dos exercícios terapêuticos.
Tecnologias de comunicação como sensores de movimento wearable podem ser a solução. Esta tecnologia permite oferecer ao doente serviços de Tele-reabilitação Assíncrona, em que há monitorização remota dos exercícios terapêuticos que são uma parte essencial do programa de reabilitação. E se oferecermos a tecnologia necessária, os doentes poderão realizar os exercícios com segurança com a supervisão competente e profissional. Esta tecnologia de sensores ajuda tanto o doente como o profissional de saúde médico/fisioterapeuta.
Diogo Manuel Melo
Médico de Medicina Fisica e de Reabilitação e membro-fundador da NOSSANO